Como em um processo de análise, Riobaldo (protagonista da obra) narra sua história a um certo senhor sábio, paciente que escuta suas palavras de maneira a torná-las novamente vivas.
"O senhor é de fora, meu amigo mas meu estranho. Mas, talvez por isto mesmo. Falar com o estranho assim, que bem ouve e logo longe se vai embora, é um segundo proveito: faz do jeito que eu falasse mais comigo mesmo. Mire veja: o que é ruim, dentro da gente, a gente perverte sempre por arredar mais de si. Para isso é que o muito se fala?" O começo do livro é o caos, a desordem, a dor de Riobaldo pela perda do seu grande amor. Começamos a leitura nos enveredando pelo sertão de maneira confusa e aflitiva. “Os gerais sem tamanho… o sertão por toda parte…” O que seria o sertão? A escrita sem ordem cronológica mas em flashback, frases ambíguas e palavras inventadas em novo dialeto criado pelo autor - a linguagem do sertão. Já nas primeiras páginas surgem questionamento sobre o bem e o mal que se misturam… Existe Deus? E o Diabo? Quanto mais se adentra nas veredas do sertão mais se aproximava do Demo… Riobaldo se autorizar a seguir seu desejo e amar Diadorim era fazer um pacto com o demônio? Aonde está o Demo? Está fora ou dentro do homem? Como um homem pode amar outro homem? “Coração da gente - o escuro, escuros…” “Diadorim era a minha neblina…” “O Diabo na rua no meio do redemunho…” A leitura deste livro é de fato uma travessia. Aos poucos o protagonista vai realizando o luto do seu amor perdido ao narrar sua trajetória. Ressignificando sua perda, encontrando um lugar simbólico para que novos investimentos sejam possíveis. “O sertão é dentro da gente…” “O diabo não há! Existe é homem humano. Travessia.” A última frase do livro é seguida com o símbolo do infinito, onde o começo e o fim se entrelaçam… Fim da história, o drama de Riobaldo nos concerne a todos nós? "O sertão é do tamanho do mundo" - seria o sertão a própria condição humana? As veredas mais íntimas do humano: o mal estar de se viver na civilização, as leis do sertão, os caminhos inexplicáveis do desejo humano, a árdua travessia do luto.
“Viver é muito perigoso…” A escrita de Guimarães narra o trágico e a mais bela poesia da “travessia” humana. Não tente compreender o sertão de Guimarães, assim como a interpretação psicanalítica, como dizia Lacan, “não é feita para ser compreendida; ela é feita para produzir ondas.”