Realização: Confraria das Lagartixas e A Casa Frida
Queridos amantes de Clarice,
Nossa próxima Ciranda de Leitura, em parceria com a Confraria das Lagartixas e A Casa Frida, será dedicada ao romance "A Paixão Segundo G.H." de Clarice Lispector.
Este encontro será uma celebração da vida, da arte e da complexidade humana, tudo guiado pelas palavras de Clarice. Vai acontecer no dia 31/08/2024 das 16:00 às 18:00 hs via plataforma Zoom.
Maria Fernanda Cândido - A Paixão Segundo G.H. por Luiz Fernando Carvalho
Convidamos você a compartilhar conosco como Clarice Lispector entrou em sua vida.
Queremos saber como suas palavras, tão cheias de vida e mistério, impactaram sua jornada pessoal.
Nossa introdução ao livro será única, organizada por leitores e para leitores.
Cada participante poderá contar, de forma breve, sobre seu primeiro encontro com Clarice e como suas obras reverberaram em suas vidas.
Maria Fernanda Cândido - A Paixão Segundo G.H. por Luiz Fernando Carvalho
“Escrevi livros que fizeram muitas pessoas me amar de longe”, disse Clarice. E é esse amor que queremos celebrar.
Guimarães Rosa afirmava: “Clarice, eu não leio você para a literatura, mas para a vida.” E é exatamente isso que buscamos neste encontro.
Vamos juntos declarar nosso amor por Clarice Lispector, compartilhar nossas experiências e nos embriagar de suas epifanias.
Venha celebrar Clarice conosco. Deixe-se tocar, deixe-se levar, e juntos, vamos explorar a paixão segundo G.H. como nunca antes.
Eu tive o meu primeiro contato com a Clarice no colegial, com o romance "A Hora da Estrela" que ia cair no vestibular - este foi o primeiro livro dela que eu li. "A Descoberta do Mundo" foi um livro muito forte para mim. Foi ele que me fez começar a sentir essa paixão pela Clarice, desenvolver esse amor. A Paixão segundo G.H., me causou um impacto muito forte, mexeu muito comigo, me desorganizou literalmente.
Maria Fernanda Cândido
Nós é que estamos à beira de Clarice, à beira de Claricear, e nunca Clariceamos; estamos à beira de nascer um Clariceão imenso dentro de nós, e nada, nada de nos entregarmos ao Clariceamento: "Que estou eu a dizer? Estou dizendo amor. E à beira do amor estamos nós."
Luiz Fernando Carvalho
Eu tinha 16 anos quando chegamos a Washington e a minha primeira impressão da Clarice foi a de todo mundo: fascinação. Com a sua beleza eslava, os olhos meio asiáticos, o erre carregado que dava um mistério especial à sua fala, e ao mesmo tempo com seu humor e seu jeito de garotona ainda desacostumada com o tamanho do próprio corpo.
Luis Fernando Veríssimo
Não posso fazer um texto sobre a Clarice. Minha admiração por ela e pelo trabalho dela, sua obra, me faz, me obriga a reconhecer que não sou capaz de comentar o que for sobre sua obra. É que sempre parece impossível pra mim dizer não a qualquer coisa sobre Clarice. Mas a consciência deve ser ouvida. A razão também. Não sou capaz. Sou muito pequena para tecer comentários sobre ela. Dizer textos dela posso, como intérprete. Daí a escrever sobre sua obra, ou escolha de sua obra, vai um longo caminho.
Maria Bethânia
Eu tinha 17 anos quando li “A imitação da rosa” de Clarice, na revista “Senhor”. Eu ainda morava em Santo Amaro, e meu irmão Rodrigo me deu de presente uma assinatura da revista. Ler esse conto foi um acontecimento em minha vida. Aquilo bateu fundo e me impressionou em todos os níveis. Foi um negócio muito intenso. Mas eu fiquei com medo do conto, fiquei com medo de enlouquecer.
Caetano Veloso
O que escrever diante de um conto, escrito em três partes em que o simples ato de matar uma barata na cozinha de casa ganha a dimensão de uma tragédia grega surrealista? Nada.
Não há o que acrescentar. Tenho até vergonha de escrever. Qualquer comentário me parece obsoleto.
CLARICE ME DEIXA MUDA.
(Sobre o conto ‘A Quinta História’)
Fernanda Torres
"Felicidade clandestina". Quando o li pela primeira vez pensei: "Isso sou eu." É assim que me sinto em relação a Clarice Lispector: apesar de ser ela puro mistério, quando estou com um livro seu aberto no colo, em êxtase puríssimo sou uma mulher com sua amante, sou uma criança descobrindo o mundo.
Malu Mader
"Nem sempre meus olhos contemplam aquilo que desejam ver, o que lhes apraz o coração, a contemplação traz a dor nua e crua, sem fuga para o êxtase. Êxito? Será esse o perdão?
Ver-se a si mesmo naquilo que pensamos que não somos?"
Bela-fera, fera-bela; a miséria pode provocar nobres sentimentos, fazer o belo se sentir feio.
Letícia Spiller
Que relação podemos ter de intimidade e respeito, reverência ou medo diante do infinito e da grandeza, nós simples humanos, mortais e pecadores. O conto “Perdoando Deus”, nos leva a uma viagem pelo raciocínio de uma mulher que tocada pela beleza da vida se sente mãe de Deus, da Terra, das coisas e do mundo. É a intimidade perturbadora de que o micro está no macro e vice-versa.
Beth Goulart
Gosto quando Clarice chega assim e me dá uma rasteira.
Aconteceu com "Ruído de passos".
Comecei a me apaixonar por dona Cândida Raposo nas primeiras linhas do conto.
Quem não se apaixonaria por uma velhinha de 81 anos que tem vertigem de viver?
Adriana Falcão
De todos os trabalhos de Clarice, que tanto admiro, o conto "Feliz aniversário" foi um dos que mais me marcou. Pode não ter a misteriosa beleza de muitos outros, é mais cortante, objetivo, duro.
Clarice usou a linguagem como um bisturi, fino, preciso e cruel, cortando a carne da alma dessas personagens, que tanto nos fazem lembrar outras reais, que conhecemos neste mundo concreto.
O que a autora descreveu magistralmente em um texto breve é o lado escuro da família, que de aconchego e abrigo se transforma numa jaula.
Muito impressionante.
Lya Luft
DURANTE ALGUNS ANOS da minha vida, eu e meu querido amigo José Antonio Garcia gostávamos de passar a noite lendo, bebendo e fumando Clarice Lispector, era um verdadeiro torpor em que às vezes tínhamos acessos de risos e às vezes chorávamos muito... Ficávamos ali, consternados com as histórias das pessoas que em voz alta líamos um para o outro horas a fio. Parecíamos conhecer todos aqueles personagens. Ler Clarice Lispector é uma das viagens mais incríveis dentro da Alma humana.
Carla Camurati
Eu que pensava que conhecia bem Clarice, me vi com um exemplar de A via crucis do corpo ainda virgem nas mãos. São textos bem desavergonhados e intensamente concisos. Um verdadeiro atestado de excelência criativa.
No conto ‘A Língua do “P”’, a autora nos pega no contrapé ao costurar, a partir de uma brincadeira infantil, um episódio tragicômico na vida de uma professora de inglês. Nisso ela é mestre: magnificar coisas que acontecem ao nosso redor. Seus personagens são aqueles que ninguém quer ver. Um bocado de gente comum passando pelo extraordinário cotidiano que se esconde pela rotina e pelo enfado.
Fernanda Takai
"Meu drama é que sou livre", escreveu. Mas sentimos, ao lê-la, que a liberdade sempre foi, para ela, uma conquista árdua, um bem que nunca chegou a possuir seguramente, uma luta travada contra uma multidão, uma andança em contramão. A procura da liberdade contra um mundo todo feito para negá-la é um dos grandes temas de Clarice Lispector, desde Virgínia, de O lustre, cuja liberdade é uma cara e frágil conquista: "Tomou um guardanapo, um pãozinho redondo... com um esforço extraordinário, quebrando em si mesma uma resistência estupefata, desviando o destino, jogou-os pela janela - e assim ela conservava o poder."
Benjamin Moser
No conto “Amor”, a trajetória da personagem Ana - simples dona de casa - que certo dia sai da "raiz firme das coisas" e penetra "na hora perigosa da tarde", experimentando uma revelação/crise/náusea que a expulsa da "cegueira" cotidiana, é um movimento que vai se repetir em outros contos e nos romances de Clarice. Seus personagens estão sempre sendo submetidos a um conhecimento súbito da "verdade" em meio à banalidade da vida. Há um "rito de passagem", uma "iniciação" perigosa e sublime, que arrebata não só seus personagens, mas também o leitor e a própria narradora.
Affonso Romano Santanna
O que "A Repartição dos Pães" tem de encantador é o lado trivial da narrativa, que nasce a partir de uma situação corriqueira, íntima dos leitores. Quem é que já não foi a um almoço ou jantar por obrigação, quem é que já não se viu em silêncio numa sala cheia de estranhos, sonhando em sair dali o mais rápido possível?
O tempo da vida é curto, há um mundo lá fora, mas a obrigação nos prende ali.
Cora Rónai
"O relatório da coisa" é um corajoso esforço para acessar esse mundo em que as palavras se tornam não só desnecessárias, mas absurdas. Ao coração selvagem em que nos debatemos. Mesmo com as melhores palavras, algo sempre escapa. Esse algo é a "coisa".
José Castello
Meu irmão e eu juntávamos dinheiro de nossa mesada para comprar a revista Senhor, alternando o direito de primazia na leitura. E ali a encontrei. Não Clarice, de quem eu ia em busca, mas Laura, por quem não esperava. E Laura abriu em mim um abismo.
Tão corriqueira, Laura, traçada em tantos tons castanhos como um quadro antigo. Nela, na casa, no bairro, na roupa que vestirá para jantar com Armando, e nele também, nenhuma cor, nada que se destaque ou grite, só murmúrios e veladuras sobrepostas de um mesmo, idêntico, marrom. Um disfarce, esse marrom, poeira densa que encobre a luminosa ausência, o espaço sem pressa e sem sono de onde Laura veio e ao qual, irremediavelmente, regressará no fim.
(A Imitação da Rosa)
Marina Colassanti
“Uma escritora decidida a desvendar as profundezas da alma. Essa é Clarice Lispector, que escolheu a literatura como bússola em sua busca pela essência humana.”
A paixão segundo G.H.
Considerado por muitos o grande livro de Clarice Lispector.
Nas linhas que antecedem a abertura deste romance, Clarice Lispector dirige-se a seus “possíveis leitores” dizendo que aquele livro é “como um livro qualquer”, mas que ficaria “contente se fosse lido apenas por pessoas de alma já formada”. Se considerássemos apenas o fio do enredo e somente ele, A paixão segundo G.H. talvez fosse mesmo um livro qualquer. Mas, um passo para dentro do romance, e encontramos uma narração em primeira pessoa, G.H., em absoluto estado de concentração e dilatação interior, após a travessia do que se tornaria para ela uma experiência limite.
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